por Eduardo Graboski
Publicado em 09/06/2025, às 10h03
Marisa Maiô não existe. Nunca existiu. Mas está mais famosa do que a maioria das atrizes da Globo. Milhões de curtidas, contratos publicitários, presença constante nos trends e um detalhe: ela foi criada por uma inteligência artificial. Zero DNA, zero CPF — e ainda assim, mais desejada e comentada do que muita celebridade de carne e osso.
O fenômeno Marisa Maiô é a ponta de um iceberg que a indústria do entretenimento finge não ver. Enquanto a TV aberta luta por audiência e o streaming recicla enredos repetitivos, o público está se encantando com criaturas que não erram, não envelhecem e nunca pedem aumento de cachê. Elas não têm crise de ego, não atrasam para gravação e não se envolvem em escândalos — a não ser que os roteiristas de algoritmo decidam por isso.
Estamos diante de uma revolução silenciosa, mas voraz. As "celebridades sintéticas" - criadas pela inteligência artificial- não são só filtros bonitos ou avatares digitais: são personagens com capacidade de engajamento superior à maioria dos humanos reais. Elas foram treinadas para seduzir o algoritmo — e estão vencendo.
E a pergunta que ninguém quer fazer é: a inteligência artificial vai tomar o lugar da atriz, da influencer, da apresentadora? Spoiler: já está tomando. Mas, TV e streaming não vão acabar por conta disso.
É ingênuo achar que o público liga tanto para autenticidade quanto os puristas da arte acreditam. O que movimenta o entretenimento hoje é atenção, consistência e estética exagerada. E nisso, a IA nada de braçada. Enquanto atrizes disputam papéis em novelas mornas, uma personagem fake, de maiô cavado e sorriso calibrado, faz parcerias com marcas de luxo, ganha fandom, fanfics e até capas de revista — tudo isso sem ter dado um único passo fora da tela.
TV e streaming precisam acordar. E rápido. Se as emissoras ainda sonham em recuperar o protagonismo cultural, terão que se reinventar. Já passou da hora da TV aberta criar suas próprias apresentadoras digitais, seus personagens de IA que sejam tão carismáticos quanto as figuras que um dia surgiram em Malhação ou no BBB. Se a Globo não cria a sua Marisa Maiô, o TikTok e o Instagram criam. E com muito mais engajamento.
Mais que uma tendência estética, estamos diante de uma virada de chave. Daqui a pouco, programas inteiros serão protagonizados por avatares: novelas, talk shows, realities e até telejornais com âncoras perfeitos, impossíveis de cancelar. O público vai assistir? Vai. Vai amar, rir, chorar e compartilhar. Como sempre fez. O problema é que agora os protagonistas serão algoritmos, não artistas. Trata-se de uma nova era, no melhor estilo Black Mirror.
A indústria que sempre produziu mitos está, pela primeira vez, sendo engolida por eles. E o mais louco: mitos sem alma. Prepare-se. Marisa Maiô é só o trailer. O filme da nova era do entretenimento está só começando — e quem não acompanhar vai virar figurante na própria história.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do CENAPOP.