por Eduardo Graboski
Publicado em 27/06/2025, às 16h48
Essa não é só mais uma série coreana que virou febre. "Round 6" chegou ao fim, e o recado foi mais direto que qualquer bala perdida nas provas sangrentas: a vida real já é um jogo injusto.
Lançada hoje no Brasil pela Netflix, a última temporada de Round 6 encerra a saga que começou com 456 pessoas desesperadas por dinheiro e termina com um soco no estômago da sociedade moderna. A violência segue ali, os jogos continuam cruéis, mas o foco agora é outro: quem lucra com esse caos todo? E mais — por que a gente aceita essas regras sem nem pensar?
Gi‑hun, o protagonista, deixa de ser só um jogador em busca de sobrevivência. Ele vira símbolo da resistência, da dúvida e da tentativa de quebrar um sistema inteiro. E é aí que a série brilha: ela abandona o suspense fácil e aposta no questionamento. O inimigo real não está só nos corredores vermelhos com capangas armados — ele está nos bancos, nos contratos, nos feeds e nos escritórios frios com salário atrasado.
A nova temporada escancara o que já estava nas entrelinhas desde o começo: Round 6 nunca foi sobre jogos. Sempre foi sobre a gente. Sobre como aceitamos competir uns com os outros porque estamos ocupados demais tentando pagar boletos, sustentar filhos, manter a cabeça no lugar e, quem sabe, sonhar um pouco.
É uma série sobre desigualdade, vício em dinheiro, meritocracia tóxica, e a romantização da “luta pela vida” como se fosse bonito se matar por um prato de comida. No fundo, é sobre um sistema que transforma miséria em entretenimento — e a gente consome isso como se fosse só mais uma série boa de domingo.
E é impossível não pensar no mundo real: gente sendo explorada por aplicativos, salários cada vez mais baixos, vidas resumidas a metas inalcançáveis. Em Round 6, isso vira jogo mortal. Aqui fora, só dói mais devagar.
A terceira temporada entrega emoção, reviravoltas e respostas. Mas entrega principalmente um espelho. Feio, desconfortável e necessário. Porque talvez o maior plot twist da série seja esse: a gente se acha esperto demais pra cair nesses jogos... até perceber que já está jogando — e perdendo — faz tempo.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do CENAPOP.